sábado, 11 de abril de 2009

Você viu o filme do Daniel?

Por: Walter Carrilho

A idéia de que o brasileiro é solidário nunca passou de uma piada na qual uns otários acreditam. Mas não é que tem gente demonstrando uma imensa boa vontade e espírito samaritano? Pena que seja uma solidariedade mesclada a um certo masoquismo. É incrível, mas ouvi um monte de gente falando que foi ver a refilmagem de O Menino da Porteira, com o cantor Daniel, o Sérgio Reis com “ab toner.
O filme nem esquentou muito o assento e já está saindo de cartaz. Mas mesmo assim tem gente comentando, dizendo que curtiu. Não estranhe, mas são pessoas que não curtem música sertaneja, não sabem a diferença entre um pé de feijão e uma samambaia e acha boi um bicho fofinho, desde que fatiado e mal passado. São pessoas supostamente cultas e antenadas, que sabem o que rolou no último capítulo de Lost e fingem ler Tolstoi para não pegar mal no almoço com amigos.
Sabe o que é isso, Juquinha? É a volta do lema “vamos prestigiar o cinema brasileiro”, um lance meio “vamos dar amendoim aos macacos” – a diferença é que nesse caso os primatas têm verba pública. A solidariedade e a condescendência com a classe artística nacional é antiga. É como cuidar de bebês: eles cagam, mijam e babam, mas não são uma gracinha? Não duvide: quem elogia o filme também acredita que as novelas “são um retrato da nossa realidade”.
O diretor do filme é Jeremias Moreira, o mesmo que dirigiu a primeira versão. É um caso curioso de reciclagem dos próprios dejetos. Nada contra quem viu o filme para “conhecer o Brasil real” e ver histórias “do nosso povo, nossa gente”. Mas, sinceramente, esse lance de menininho pedindo para boiadeiro “tocar o berrante” é meio esquisito em tempos de CPI da pedofilia.

 
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