sábado, 22 de março de 2008

Pequenos, pequenos demais

Carl Sagan, o Cosmos e um pálido ponto azul no Universo

Por: Alexandre Inagaki

Creio que foi em um dos livros do Casseta & Planeta que foi publicada a clássica piada: "se nós já passamos por crises existenciais frente à nossa insignificância em meio à imensidão do universo, imaginem o que uma ameba não sentiria?". Lembrei dessa piada ao assistir ao vídeo We Are Here: The Pale Blue Dot ("nós estamos aqui: o pálido ponto azul"), no qual o astrônomo Carl Edward Sagan narra alguns dos pensamentos que lhe vieram à mente quando viu a famosa foto que a sonda espacial Voyager 1 tirou do planeta Terra, a uma distância de mais de 6 bilhões de quilômetros.

Pale Blue Dot, foto da 'pálida sombra azul' tirada pela Voyager 1.

Um minúsculo ponto granulado, perdido em meio à poeira das estrelas. E, como na canção pra lá de manjada de John Lennon, sem paraíso, sem países, sem religiões, sem posses. Assistir ao belo vídeo abaixo, dirigido por David Fu, com narração e texto de Carl Sagan e uma magnífica trilha sonora ("Stop Coming to My House", do Mogwai), é dessas coisas que fazem a gente parar pra pensar na condição humana e no que estamos fazendo com este surrado planeta.

O vídeo, além de fazer a gente pensar um bocado, me fez resgatar reminiscências de 1982, quando a Globo exibiu Cosmos, a clássica série de 13 episódios concebida por Sagan na qual ele convidava seus telespectadores a acompanharem-no em uma viagem no tempo e espaço, a bordo de uma astronave imaginária que explorava os confins do universo. Eu, que era um pirralho de 8 anos na época, fiquei fascinado com as histórias que aquele homem contava sobre estrelas, planetas, galáxias, quasares, constelações e toda a infinitude do oceano cósmico. Lembro até hoje do episódio no qual Sagan fala do incêndio da Biblioteca de Alexandria, uma das primeiras vezes em que constatei a sabedoria da frase cunhada por outro cientista, Albert Einstein: "Somente duas coisas são infinitas: o Universo e a estupidez humana. Mas não tenho tanta certeza sobre o Universo".

É significativo saber que, graças à livre difusão de informações propiciada pela internet, é possível assistir a Cosmos no YouTube. Ao mesmo tempo, não é de se admirar que tais vídeos sejam muito menos visualizados do que qualquer bobeira envolvendo a Dança do Créu ao fundo. Mas desencanai-vos; em vez de tecer tergiversações surradas sobre os fúteis interesses humanos, é muito melhor rever, mais de duas décadas depois, as imagens do primeiro capítulo de Cosmos, acompanhadas pela trilha sonora composta por Vangelis.

Como bem disse Carl Sagan, o cosmos é tudo que é, que foi, que será. Sagan, um cético que acreditava piamente na ciência, morreu aos 62 anos de idade, no dia 20 de dezembro de 1996. Embora não fosse do seu feitio crer em existência após a morte, gosto de recordar uma história que li por aí. Depois de saber que seu professor havia sido homenageado por astrônomos que batizaram um asteróide com o nome de 2709 Sagan, um de seus alunos afirmou: "O céu era seu lar. Ele finalmente está em casa".

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Suplementando:

The Beatles - Nothing's Gonna Change my World


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