sábado, 1 de março de 2008

Resenha de Rambo IV


O ex-boina verde aceita seus demônios interiores





Depois de 20 anos perdido em alguma selva ao redor do planeta, John Rambo, o maior símbolo do governo Ronald Reagan retornou aos cinemas. Sylvester Stallone mais uma vez coloca sua bandana e munido de seu facão partiu em uma difícil missão: vencer as barreiras do tempo e conquistar uma juventude que nem era nascida quando o primeiro filme (Rambo – Programado Para Matar de 1983) foi lançado. Rambo IV estréia no dia 29 de fevereiro em circuito nacional.

A oportunidade veio com o sucesso de crítica e público de Rocky Balboa, sexto filme da franquia com o pugilista homônimo encarnado por Stallone. Mas vale dizer que Rambo era para ter chegado antes de Rocky aos cinemas. Sly já tinha o roteiro e estava aguardando recursos para fazer o filme. Porém Rocky foi o primeiro a receber o sinal verde dos produtores, pois acreditavam que o personagem não era datado.

O caso de Rambo era diferente. O ex-boina verde tinha sua imagem profundamente associada ao governo norte-americano de uma época em que o velho jargão “lutamos pela liberdade e democracia” tinha um forte consentimento da opinião pública mundial. Com as sucessivas burrices cometidas pelas duas administrações do presidente George W. Bush ficou difícil engolir essa idéia.

Para piorar, Stallone também tinha perdido seu prestígio com uma série de filmes ruins que naufragaram nas bilheterias. Seus últimos trabalhos estavam indo direto para o mercado de DVD. Chegou a ser comparado a outros ícones brucutus do 2º escalão do cinema de porrada como Jean Claude Van Dame, Steven Segal e Chuck Norris, todos também restritos ao DVD. Entre os ex-astros de ação, quem tinha conseguido a melhor “aposentadoria” foi Arnold Schwarzenegger, que se tornou governador para “exterminar” a Califórnia, enquanto o tal terremoto não chega.

Stallone parecia nocauteado pela idade. Porém, o eterno “garanhão italiano” conseguiu dar a volta por cima, buscando inspiração em suas velhas e eternas criações. No caso especifico de Rambo, Sly conseguiu uma vitória surpreendente. Especialistas fizeram projeções e garantem que o filme ultrapassará os 100 milhões de dólares. Marca considerada imprescindível para que o filme seja considerado um sucesso. O filme custou 50 milhões e já faturou 68 milhões de dólares pelo planeta em quatro semanas de exibição. Vale lembrar que ainda falta estrear em diversos outros países.

Os longas anteriores tiveram uma recepção melhor. O primeiro (1982) custou 15 milhões e rendeu 125 milhões de dólares. O segundo (1985) não teve seu custo divulgado, mas faturou 300 milhões. O terceiro (1988) gastou 63 milhões e recebeu 190 milhões nas bilheterias. Em um primeiro momento, a diferença para o novo filme parece enorme. Mas os especialistas levam em conta outras variáveis na equação, como os 20 anos que separam a produção anterior, o ostracismo de Stallone e a mudança do público dos anos 80 para o de hoje em dia. E se analisarmos os diversos produtos, como bonecos, camisetas, games e o futuro lançamento em DVD, que acompanham Rambo IV, a produção é considerada um sucesso.

O caminho para esse sucesso não foi fácil. O roteiro de Rambo IV sofreu diversas alterações. No primeiro rascunho, Rambo leva uma vida pacata com sua esposa e filha. Um belo dia, supremacistas brancos seqüestram sua família e o velho soldado precisa entrar em ação. Idéias absurdas como essa, surgiram as dezenas. Uma das mais estapafúrdias apresentava Rambo como um diplomata (?!?!) trabalhando nas Nações Unidas. Terroristas resolvem invadir o prédio em Nova York e fazem reféns. Rambo é obrigado a deixar de lado sua pastinha de executivo e retornar a sua velha vocação de resolver indiferenças com a força bruta.

Os deuses devem ter iluminado as idéias na cabeça de Stallone. Ele acabou escrevendo o roteiro e acertadamente não tentou inventar ou investir em uma história sobre terroristas muçulmanos. A nova aventura bebe das mesmas fontes dos dois filmes anteriores. Passaram 20 anos do último filme, mas tirando o excesso de botox na cara do ator, pouca coisa mudou. Parece até uma refilmagem. Rambo vive seus dias de aposentadoria na Tailândia na fronteira com a Birmânia (pelo amor de deus, eu sei que o nome atual não é esse, mas vou seguir as idéias do Sly). Missionários pedem sua ajuda para atravessar a fronteira para ajudar o povo birmanês com remédios, por causa do governo sanguinário de Than Shwe. Os missionários acabam sendo presos e Rambo é obrigado a retornar a ativa ao lado de um grupo de mercenários. Obviamente que o filme foi banido na Birmânia pelo governo militar do país.

Foi a primeira vez que David Morrell, criador do personagem e autor do primeiro livro, não escreveu uma novelização do filme. Uma outra mudança veio na direção, em que Stallone assumiu a função pela primeira vez. Ele resolveu mostrar com extrema realidade os horrores de uma batalha. A produção bateu o recorde de mortes em relação às outras. A matança gerou 236 corpos mostrados em cenas detalhadas, onde se pode ver braços, cabeças, pernas e vísceras voando pelos ares.

Se em Rocky Balboa o dilema era sobre a velhice, em Rambo IV o ex-boina verde finalmente aceita seu instinto assassino. Essa é a parte inteligente do roteiro. Percebe-se que Rambo, desde o final do conflito do Vietnam, vem perambulando a procura de algo. Mesmo nos templos budistas, ele não conseguiu encontrar uma paz interior. O final brilhante, que remete a cena inicial do primeiro filme, demonstra que finalmente o veterano soldado aceitou seus demônios interiores. Através desse conceito, Sly entrega aos seus fãs um verdadeiro banquete de sangue, tripas e corpos mutilados com requintes de sadismo. Pode parecer exagerado e sem propósito. Mas a abordagem explicitamente realista retrata com a perfeição as conseqüências de uma batalha.

Stallone tentou trazer o maior número de profissionais relevantes dos filmes anteriores. O ator Richard Crenna que interpretava o Coronel Samuel Trautman, amigo de Rambo, não pode retornar ao papel, pois faleceu em 2003. Chegou a ser cogitado o nome de James Brolin (atual marido da cantora Barbra Streisand) para substituí-lo, mas Stallone abandonou a idéia. O compositor Jerry Goldsmith, que fez as trilhas nos três primeiros filmes, também não pode retornar, pois faleceu em 2004. Mas a música tema do personagem, composta por Goldsmith toca a todo o momento. O diretor do primeiro filme da franquia, Ted Kotcheff, foi convidado para exercer o cargo de consultor técnico na produção. A única cara nova da produção é a atriz Julie Benz que interpreta uma das missionárias. Ela foi convidada, pois Stallone é fã do seriado “Dexter”, em que Julie é uma das protagonistas.

Um pequeno detalhe que não faz a mínima diferença para o fã do veterano soldado. O que eles querem ver é o Rambo dizimando seus inimigos sem piedade. E isso ele faz como uma verdadeira máquina de matar. Impressiona como Sly, aos 61 anos, consegue transmitir tamanha veracidade ao personagem. Sua expressão remete a um mármore carcomido com o tempo, mas ao mesmo tempo indestrutível. Alguns podem reclamar que o filme tem pouco Rambo, ou que ele deveria ter mais combates mano a mano. Convenhamos, fica difícil um homem de 61 anos, por mais casca grossa que seja, enfrentar um exercito inteiro com uma faca e flechas.

Com o sucesso de Rocky e Rambo, Stallone parece ter encontrado o caminho para uma aposentadoria digna utilizando seus velhos sucessos dos anos 80. Época que dividia o reino de Hollywood com Schwarzenegger. Os fãs já estão na torcida pelo próximo que pode ser ressuscitado. Quem será? Marion Cobretti, Kit Latura, Lincoln Hawk, Raymond ‘Ray’ Tango, Angelo ‘Snaps’ Provolone, Joe Tanto, Cosmo Carboni, Machine Gun Joe Viterbo, Stanley Rosiello, Sargento Deke DaSilva, John Spartan ou Ray Quick, entre outros. Não se sabe, mas tem que reconhecer, o cara é ótimo para nomes.

Veja o trailer.


Por Mario "Fanaticc" Abbade

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