quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Dia da Independência ou Independence Day?

Christmas, the city of the sun.

A vida é surpreendente mesmo. Quando a gente acha que já viu de tudo, que nada mais vai nos causar impacto, essa palavra que tanto atormenta nossos vereadores, que nenhum fato novo poderá nos chamar a atenção, eis que você vira a esquina e um simples outdoor grita aos seus olhos, penetra o seu cérebro e agride o seu bom senso. Que a burrice e mediocridade humanas desconhecem limites, já se sabe. O problema é que em Natal elas alcançam níveis estratosféricos.
O outdoor em questão nem tinha a intenção de chocar ninguém. Percebe-se que o objetivo de sua criação é divulgar uma festa, um show do cantor Marcelo D2 a ser realizado em Pipa no próximo dia 7 de setembro. Até aí nada demais. D2 é um músico talentoso, sua fusão de hip-hop com ritmos brasileiros venceu preconceitos e conquistou fãs nos mais diferentes nichos sociais. Pipa também é um lugar sensacional que nos dá orgulho e transmite conforto pelo simples fato de estar logo aí, do nosso lado.
O problema todo é o nome que foi dado à festa que vai ter lugar na praia no dia em que celebramos nossa independência (sic). No canto superior esquerdo da placa está escrito “7 de setembro. Independence Day!”. Não estou brincando! Alguém teve a cara de pau, por má fé ou ignorância (Aliás, ignorância o caramba! Isso é burrice mesmo! E das grandes!) de dizer que o dia 7 de setembro é o nosso “Independence Day!”
É uma contradição tão grande que beira o absurdo. Numa mesma frase, alguém quis dizer que somos independentes de uma forma que não deixou qualquer dúvida sobre nossa dependência cultural, lingüística, ideológica. Fez-me lembrar, só pra permanecer no panteão dos rimadores cariocas, uma letra do Gabriel, o Pensador: “…Cê tá do lado de baixo. Você é uma fêmea no cio e o Tio Sam é o seu macho…” Palavras mais que adequadas à situação.
Gosto muito de Pipa e também do D2, mas criei um abuso grande dessa festa. Não quero saber quem organizou nem quem criou essa chamada idiota! Se vocês conhecerem, não me apresentem! Conhecer alguém assim vai ser um enorme retrocesso em minha vida.
E pra ficar pior, não precisa rodar muito pela cidade. Algumas ruas depois, pode-se deparar com outro outdoor, de um bloco de carnatal, a grande manifestação cultural dessa cidade. No reclame se lê “Skol, H2O e Pepsi FREE!”. Isso mesmo: não é grátis. É FREE! Grátis é brega. Grátis é em português. Português não é sofisticado o suficiente pra quem quer pular no multicolorido bloco carnatalesco. Normal. O que esperar de uma cidade que, em vez de desenvolver uma identidade própria ou resgatar e modernizar elementos culturais fortíssimos, prefere importar uma cultura da Bahia já pronta e empacotada para o uso geral e irrestrito?
Os outdoors que vi essa semana são apenas alegorias de nosso fracasso como sociedade. Não são cartazes. São espelhos que refletem uma elite babaca, uma classe média, que além de média é mediana. Projetam de volta uma cidade sem rumo, sem norte, sem noção de ridículo, nem senso de direção. É Natal embalando, gente! Agora é pra valer! Mas, diz aí: embalando pra onde?
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Para quem não conhece esse é Carlos Fialho, colunista da DIGI, vale muito a pena dar uma lida nele, sempre falando sobre Natal e como ele se define: "Textos curtos, humor fácil, cotidiano, simples e certeiro." Me lembra muito um amigo que tenho, né Gregs?
Valeu pela dica Marcone e por muitas outras.

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