quarta-feira, 15 de abril de 2009

Cabine sobre o novo filme da saga Star Trek

Fernanda Leite

Diário de bordo. Paris. Star Trek. Sessãozinha reservada para a cética imprensa européia e uma rodada exclusiva de entrevistas.

E no meio disso tudo essa que vos escreve, duplamente outsider, por ser brasileira e completamente por fora do mundo trekker.

Indo direto ao assunto - e pode ler por que não tem spoilers por aqui - a primeira coisa que me veio à cabeça quando terminou o filme foi: quantas coisas legais a gente perde pela falta de talento alheio? E mais: quantas outras eu não dei a menor bola pelo simples fato de que a realização era tão ruim, mas tão ruim que a sátira do produto acabou ganhando mais destaque do que a coisa em si? Sejamos francos, se não fosse por Chris Nolan, Batman já teria caído no esquecimento. Pois bem, esse é o caso exato de Star Trek, que depois de anos de maltrato foi minguando até quase sumir.

Mas agora tudo isso é passado. E são tantas coisas para falar do filme que se eu continuar na prosa vou me perder. Então aqui vai um resuminho da minha recém adquirida apreciação trekker e impressões, em tópicos:

J.J. ABRAMS - o homem por trás do gênio

J.J. Abrams é hoje uma das mentes mais geniais de Hollywood. Ele assumiu o desafio de reformar, dar cara e pintura nova ao clássico Star Trek. Mas é um engano achar que ele aceitou o cargo por ser fanático pelas orelhas do Spock. Assim como eu e mais alguns, J.J. não era fã da saga e justamente por isso se sentiu mais à vontade para selecionar o que era essêncial e mais legal de toda a saga e realizar o feito. E, acreditem, não foi tarefa simples. Segundo ele próprio, mesmo com várias estrelas se candidatando ao papel ele queria gente nova. Nos preciosos 5 minutos de entrevista, ele até citou o primeiro Superman como exemplo. Ele lembrou que quando o filme estreou, em 1978, trazia "apenas" Marlon Brando como rosto conhecido. Neste novo Star Trek temos Eric Bana para segurar um status de estrela - adjetivo que o resto do elenco ainda não compartilha. Essa fama de criativo e talentoso é algo que tem me intrigado sobre a figura do J.J. Abrams. Graças a dica de um amigo resolvi investir no tema. Humilde, ele disse que se acha criativo como qualquer outra pessoa e que no caso de Star Trek ele tinha roteiristas que eram fanáticos pela saga e por causa deles o novo filme não corria o risco de se perder. Para quem não sabe, o cineasta não age sozinho. O cara tem parceiros valiosos. São roteiristas e produtores que formam junto com ele uma espécie de "liga dos supergênios de Hollywood". Os caras mandam muito bem! E para aqueles que sempre torceram o nariz para Star Trek e toda aquela coisa de uniforme e nomes esquisitos, rendam-se: depois de Batman - O Cavaleiro das Trevas, Star Trek vai ser - ou volta a ser? - o novo queridinho pop da nossa geração.

ZACHARY QUINTO - um Spock nunca foi o bastante

Para comecar, algo off-topic total: no corredor do hotel onde rolaram as entrevistas eu virei para duas assessoras francesas e disse "sou só eu que acho ou o Zachary Quinto é mesmo super gato?!" ao que elas me respondem "acho que sim!". Imagine a minha cara do tipo "nossa, o mercado masculino francês deve estar realmente em alta pra estas duas jogarem foram o Spock assim, sem pestanejar!". Voltando ao Star Trek... J.J. e sua turma acertaram na mosca ao investir na história de Spock. Ponto altíssimo do filme pois a história dele é muito mais interessante que a do Kirk em termos de dramas pessoais. Poxa, o cara é meio humano, meio vulcano! E aquele hi-five vulcano é genial. Me segurei pra não cumprimentar o Zac Quinto assim \\// ! O cara segura muito bem a dualidade do personagem, uma frieza que se soma a uma emoção fortíssima estampada no olhar do sujeito. A caracterização também está totalmente fiel ao visual original. E mais uma confissão: mesmo nunca tendo seguido a história, ver o Leonard Nimoy interpretando o Spock mais velho foi emocionante. Valeu uma lágrima. Fiquei feliz por ele ter aceitado retomar o papel. O Spock arrasa na nova aventura.

CHRIS PINE - Kirk, o engraçadinho

Eu estava meio desconfiada da escolha do Chris Pine para viver o Kirk mas confesso que me surpreendi. Uma das coisa que sempre senti falta em sci-fi foi a falta de senso de humor. Resultado: se os caras não tiravam sarro deles mesmos alguém tirava por eles e aí tudo virava motivo de piada. Pois bem, sem cair na anedota barata ou na auto-referência, Kirk arranca umas boas risadas com um jeito moleque e bocudo de jovem Kirk. Louros aos roteiristas mas também ao Chris Pine. Ele protagoniza as cenas mais eletrizantes do filme, daquelas de grudar na cadeira e prender a respiração. Segundo o ator, ele chegou a conversar com o William Shatner mas preferiu não copiar nada de suas atuações anteriores - rola um boato de que o Shatner ficou chateado por não ter sido convidado a retornar também - mesmo seu peronagem tendo morrido em algum momento da saga [lembre-se que eu não sei qual foi porque nunca acompanhei!]. Vale dizer também que Pine e Quinto já eram amigos fora das telas, então rola uma química entre os dois - quimica de amigos ok?! Sem piadas, por favor.

ERIC BANA - em seu melhor papel

O Eric Bana não me agrada. Nunca me agradou. E confesso que Nero é seu melhor papel até hoje. Mesmo porque o seu personagem é o menos resolvido no filme todo. Quero dizer, a produção foi a fundo na história de vida de cada personagem, menos com Nero, o vilão. Não entendi muito bem, mas preferi não reclamar já que o Bana pra mim não fede nem cheira! Na entrevista ele falou sobre a emoção de fazer a primeira sessão oficial em Sidney - afinal ele é australiano. Disse que foi muito diferente do que ele espera que deva acontecer em Los Angeles ou Nova York, onde os trekkers prometem ser mais malucos e histéricos. Ele estava genuinamente feliz por fazer um vilão, dava pra ver na cara dele. Aquela cara dele de sei lá o quê.

ZOE SALDANA - trekker por afinidade

Eu sempre gostei da Zoe Saldana. Logo de cara falei que estava feliz em conhecê-la pois admirava muito sua carreira. Papo vai, papo vem, perguntei se ela tinha amigos que eram loucos por Star Trek e ela revela que a mãe dela e a bisavó[!] eram malucas por Jornada nas Estrelas! Disse que a personagem favorita da mãe era justamente Uhura e que ela estava super orgulhosa que a filha estava no filme. Ela é, afinal, uma das únicas mulheres abordo da USS Enterprise e provavelmente a única pessoa capaz de arrancar uma beijoca do Spock.

Abram espaço na USS Enterprise para novos trekkers

Eu nunca havia assistido a um filme da série Jornada nas Estrelas até o fim antes. Além do fato de ter nascido no meio da geração perdida, toda essa coisa de Enterprise e Spock sempre me soou meio infantil, daquelas figuras que todo mundo conhece mas todo mundo faz piada, tira um sarro. Afinal, desde quando ser nerd é cool? Ao que me consta, faz pouquíssimo tempo.

Mas eu me rendo, Star Trek acaba de ganhar o coração de sua mais nova fã! Eu não direi que vou sair correndo pra comprar meu uniforme trekker ou vou passar a cumprimentar meus amigos com um vulcano salute, mas agora definitivamente me sinto parte dessa legião de fãs que durante muitos e muitos anos sofreram com versões ridículas, medíocres e muito distantes da genialidade toda criada e realizada por Gene Roddenberry.

O J.J. Abrams e sua equipe fizeram um excelente trabalho. O cara está feliz e radiante. É uma grande adaptação e uma bela homenagem que tem tudo para agradar à legião de fãs trekkers ao redor do mundo. De lambuja ainda vai arrebanhar novos fãs e prolongar ainda mais o mito da USS Enterprise.

Como diria Spock, "vida longa e próspera". \\//

Star Trek estreia no Brasil em 8 de maio.

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