quinta-feira, 25 de junho de 2009

Mossoró em Pânico

Patrício Júnior

Não tem outra explicação: Mossoró acredita em tudo que o Pânico na TV falou sobre a cidade em sua cobertura do Mossoró Cidade Junina. Acredita que só tem gente feia na capital do Oeste; acredita que sua distância de São Paulo é a mesma que separa a civilização do inferno; acredita que misturando feijão, arroz e ovo podre resulta em algo chamado Mossoró. Só existe essa explicação para a onda de rechaço que a participação do humorístico gravada na cidade despertou nos mossoroenses. Síndrome do Patinho Feio.

Não tem como levar o Pânico na TV a sério. Só quem se leva a sério demais pode fazer isso. O humor, por vezes de mau gosto, na maioria grotesco, verdadeiramente sem critérios, não passa disso: humor. E foi exatamente isso que a dupla do Pânico foi fazer no Mossoró Cidade Junina: tirar onda. Não se esperava outra coisa. O Pânico faz sempre matérias de mau gosto, explora descaradamente o bizarrro, não tem padrões de qualidade com o que coloca no ar. Faz sucesso. Mas não tem credibilidade alguma. É só brincadeira mesmo.

Em outras cidades em que estiveram, não pegaram leve com ninguém. Incluindo aí um dos paraísos para quem procura gente bonita, rica e sarada: a ilha de Ibiza, na Espanha. A mesma dupla de comediantes esteve por lá alguns anos atrás. E pegou muito mais pesado com os entrevistados, que não falavam português e não entendiam as ofensas do personagem Crystian Pior (que chamou duas mulheres de “sapatonas”, adjetivou zilhões de homens com palavras como “bichinha” e “michê”, disse que todo mundo era feio e pobre, ridicularizou uma americana dizendo que o cabelo dela parecia “o passarinho do Snoopy com uma rebelião de piolhos” e fez uma gringa dizer em português “sou pistoleira”). Pois é, o Pânico é assim em todo lugar. Por que seria diferente em Mossoró?

A Terra da Resistência é maravilhosa. Tem gente linda, tem muitas riquezas, tem contribuições grandiosas para o panorama histórico-cultural do estado e do Brasil. Expulsou Lampião, libertou os escravos, foi pioneira no voto feminino. São muitas as façanhas do povo mossoroense. Mas a vontade de ser grande, de ser respeitado, vem burlando a visão da cidade. Mais triste ainda é ver a imprensa de lá tentando transformar o factóide em fato político, buscando freneticamente argumentos para responsabilizar a Prefeitura pelo ocorrido. Não é pensando assim que a cidade cresce.

O barulho causado pela matéria do Pânico é uma forma de se indignar pelo que os mossoroenses acham que os outros acham deles. É muita conjectura e pouco argumento. Não se pode pedir desse programa abismal um jornalismo responsável, que mostre realmente como é a cidade de Mossoró. É como se fosse uma revolta causada por ter a mente lida. Mossoró não merece isso. E não estou falando do que o Pânico disse; falo do que os mossoroenses pensam de si mesmos.

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Pra quem está por fora, vejam o que o Pânico aprontou em Mossoró:

E agora, vejam o que fizeram em Ibiza:

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