terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um Tal de Elton John – Gregório Pinheiro

Um tal de Elton John 18/01/2009

Uma força estranha me impulsionou a começar a escrever nesse exato momento. É sábado, 22:42, pelo relógio do computador. O que eu gostaria mesmo era que essa força não fosse grande suficiente para que eu saísse da minha cama, ligasse o computador do meu quarto e iniciasse a escrever há um minuto atrás. Mas já entendo bem esse fenômeno... Sei que se permanecesse na cama, colocando fé na minha vontade de pegar num sono profundo e acordar no domingo, acabaria insone, por muitas horas, de olhos cerrados à espreita de uma faísca de inconsciência. Por isso estou aqui. E por estar aqui, noto que a dor que sinto pulsando por trás de meu olho direito (uma enxaqueca ordinária) só irá piorar com a luminosidade do monitor. Espero que, nos próximos parágrafos, um texto enfadonho possa esgotar as energias dessa força que não sei de onde se origina.

 

Há segundos, eu estava assistindo ao show de Elton John na TV Globo. A minha televisão está ligada nas minhas costas, em frente a minha cama, no mesmo canal, porém a transmissão deu uma interrupção para o intervalo comercial. Estou feliz com isso pois não estou ouvindo aquele cantor inglês nem estou assistindo aos comerciais (ver TV e acertar as teclas do computador ao mesmo tempo não é algo que faço com naturalidade) . Foi só falar na criatura... O cantor voltou. O culpado de minha noite perdida. O velho esquisito...

Um pensamento fixo de falar mal de Elton John bombardeou minha cabeça e esta não foi capaz de defender-se, eliminar a obsessão (como faz com a idéia de roer unha ou de pular da varanda do 12º andar) e impor sua ordem: desconectar a aparelhagem e iniciar um sono maravilhoso. Mas não, não... Sou muito tolo. Nem aquilo que pensa por mim consegue controlar o que pensa. Está pensando o que, hein?

Esse tal de Elton John é muito ruim mesmo. Deve ter sido a mãe dele que disse àquele pré-adolescente rebelde que tinha talento para ser compositor (as mães são um problema...) . E quem essa multidão, a qual comparece ao show dele nesse exato momento, imagina que esse senhor de blazer enfeitado é? Aposto que a maioria o conhece: “É o carinha que tocou no enterro de uma princesa lá no estrangeiro. Enterro chique. Até aquela rainha velhinha compareceu. Qual o nome dela mesmo? É o mesmo da filha de tia Nena” ou “Foi ele que casou com outro homem há um tempo atrás. Casamento chique”. Quanto às músicas? Vai por mim, não precisa escutar.

Não posso dizer que sou um expert em música, mas sei identificar uma boa canção; que sou um compositor, mas dou a muitos esse título sem muita cerimônia. Desse João inglês, eu aceito devolução já que suas músicas são ruins, suas letras, estranhas ( a legenda da Globo socorreu meu inglês manco) e um cão latindo? Engano meu. Era o próprio cantando.

Acho que poderíamos aproveitar essa crise econômica global para aprendermos a importar apenas o essencial. Coca-Cola, Big Mac e Obama. Com certeza, música não estaria na lista. No Brasil, não precisamos de mais canções ou músicos. Concentramos nessa pátria amada a melhor e a pior música do mundo. Certamente, não temos muitos brasileiros chamados de Elton John, entretanto não é difícil encontrar garotos andando nus denominados John Lennon na pia. Os brasileiros são verdadeiramente muito inovadores. Não me assustarei quando tiver de chamar alguém de Latino e algum conhecido em comum avisar que isto não é apelido.

Acabo de me virar um pouco para ver Elton na tevê. Ele está cantando outra música: “o que posso fazer para você me amar?” Se fosse realmente para respondê-lo:

“Primeiro, Seu Elton, não namoro a homens, com todo respeito. Com todo respeito, sem chances. Segundo, quer um conselho? Escute um pouco de Chico Buarque para ver se desperta alguma inspiração. Se Chico não funcionar, com todo respeito, entre com pedido de aposentadoria” . Agora sinto fome. A noite vai ser longa.

Gregório Pinheiro

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