quinta-feira, 6 de março de 2008

Tudo sobre o show do Iron Maiden em São Paulo






A Donzela de Ferro prova-se cada vez mais em forma
05/03/2008Rodrigo "Piolho" Monteiro
Um fenômeno.
Pode parecer um exagero, mas essa é uma das poucas palavras que descrevem, com exatidão, a popularidade do Iron Maiden perante os fãs. E também a maneira como a banda – cujos integrantes já já viram cinquentões – se comporta em cima do palco. Não à toa, os mais de 37 mil ingressos para o show que a banda fez em São Paulo no último dia 2 de março foram esgotados com quase três meses de antecedência.
A apresentação estava marcada para as 20hs. Antes, às 19h, entraria no palco Lauren Harris e sua banda, o que se mostraria uma escolha bastante equivocada, não fosse a garota filha de Steve Harris, baixista do Maiden. Afinal, apesar de sua carreira musical não depender do pai – ela foi descoberta enquanto tocava em clubes londrinos antes de sua paternidade ser divulgada – é fato que ela só está abrindo a atual turnê do Maiden por causa dele. A banda de Lauren faz um pop rock mais pop do que rock. As letras de suas músicas são bem bobinhas, parecem coisa de adolescente, apesar dela ter já seus 23 anos de idade. Se pudermos compará-la com alguma cantora da atualidade, eu diria que Lauren Harris lembra muito Avril Lavigne. Se isso é bom ou ruim, aí já é outra história.
Felizmente para a garota, sua banda é competente, com destaque para o guitarrista Ritchie Faulkner e o fato de ser filha de Steve Harris fez com que uma platéia que tinha tudo para se tornar hostil recebesse seu show com uma indiferença educada. Durante os 30 minutos que tocou, Lauren tentou agitar o público, mostrou uma boa presença de palco... E só.
Em seguida, as coisas começavam a caminhar bem e tudo indicava que o Iron Maiden entraria no palco pontualmente às 20h. Aí o famoso clima de São Paulo decidiu atrapalhar e, faltando pouco mais de dez minutos pras 20h, um dia antes ensolarado e quente dá lugar à uma tremenda chuva de verão. Começou como uma garoa, transformou-se numa tempestadade, acalmou-se e logo parou. Mas foi o suficiente para molhar o palco e atrasar um pouco o começo do espetáculo. Por incrível que pareça, a chuva acabou se tornando um ingrediente a tornar o show ainda mais divertido.
Finalmente, palco praticamente seco, os telões laterais começam a mostrar imagens do Ed Force One – o avião – e da própria banda em momentos da atual turnê, ao som da instrumental “Transylvania”. Pouco depois, o clássico discurso de Winston Churchill atribuídos por muitos como um dos responsáveis por ter motivado os ingleses a resistir aos constantes bombardeios nazistas durante a Segunda Guerra Mundial começa a ecoar pelos PAs, dando ao público o sinal de que agora sim faltava pouco. Assim sendo, Adrian Smith, Janick Gers, Dave Murray (guitarras), Nicko McBrain (bateria), Steve Harris (baixo) e o showman Bruce “Air Siren” Dickinson (vocal) tomaram o palco de assalto já tocando “Aces High”, o primeiro de uma série de clássicos que marcariam a noite.
A indefectível “2 Minutes To Midnight”, música que, desde que foi lançada, é presença obrigatória em shows do Maiden, veio a seguir. Antes, no entanto, Bruce começou seu show à parte, fazendo troça do tempo. Para ele, a chuva eram as Spice Girls urinando sobre São Paulo. Bruce acabaria, como sempre, sendo o centro das atenções ao longo do show.
“Revelations” viria a seguir e aí o destaque vai, especialmente, para os guitarristas. É impressionante como o trio é entrosado em cima do palco, mesmo que cada um exiba um estilo completamente diferente do outro. Enquanto Adrian Smith é bem discreto, se movimentanto pouco, Dave Murray exibe sorrisos o tempo todo, enquanto que Janick Gers já se tornou famoso pela forma como joga seu instrumento para todos os lados de maneira bastante acrobática. É interessante ver como ele se relaciona com sua guitarra. Ora parece que ela é quase um cavalo chucro que ele está tendo dificuldades para domar, ora – especialmente nos solos – ele parece tocá-la da maneira mais displicente possível, como se as intrincadas notas das músicas do Iron Maiden fossem a coisa mais fácil do mundo.
“The Trooper” trouxe um Bruce usando um uniforme similar ao que a mascote Eddie usa na capa do single e a bandeira inglesa que ele não se cansava de agitar. Na hora eu me lembrei do episódio do Ozzfest de 2005, quando Bruce fez o mesmo e um dos lacaios de Sharon Osbourne invadiu o palco para arrancar-lhe o pano.
Para acalmar os ânimos, Bruce tirou mais alguns minutos para falar com o público, que não parava de gritar e agitar o tempo todo. Declarando todo seu amor pelo Brasil – Bruce mais de uma vez disse que só percebeu o tamanho do Maiden quando vieram para o Rock In Rio em 1985 – ele disse que, em 1986, quando compuseram a faixa a seguir, nunca imaginariam que 20 anos depois estariam ainda tocando para grandes audiências, ainda mais sendo aquele o maior show do Iron Maiden em terras paulistanas. Era a deixa para “Wasted Years” na qual Adrian Smith foi o destaque.
Quando a voz grave de Vincent Price – falecido ator britânico conhecido pelos filmes de terror que estrelou nas décadas de 1950 a 1970 – ecoou pelo estádio, já se sabia que era a hora de “The Number of The Beast”, uma das mais populares canções da Donzela. Durante a sua execução, com o palco ainda apresentando algumas poças, alguns roadies entraram para secá-lo. Para não perder a oportunidade, Bruce pegou gentilmente o rodo de um deles e foi ele mesmo ajudar na limpeza do palco. Bruce, aliás, parecia um moleque no palco molhado, correndo e deslizando por ele o tempo todo.“Can I Play With Madness” viria a seguir, levantando ainda mais o público, se é que isso seria possível.
A decoração de palco do Maiden, além dos temas egípcios egressos da turnê de “Powerslave” se constituía, basicamente, de uma série de enormes bandeiras no fundo do palco, que iam se alternando de acordo com a música tocada. Assim, a imagem de um antigo navio fantasma já dava a dica de que “Rime of The Ancient Mariner”, um dos maiores épicos da banda (em duração, com quase 14 minutos), viria a seguir. Antes dela, no entanto, enquanto Bruce falava sobre a música e como suas letras se relacionavam à atual situação mundial, os roadies entraram novamente para tentar secar o palco. Numa cena no mínimo insólita, um deles ficou de quatro no palco, de costas para o público, enquanto secava o chão. Primeiro, Bruce parou e olhou aquilo, antes de fazer uma piada a respeito. Depois, quando o ajudante já estava em pé, disse que havia um pouco de água na ponta de seu nariz, o que fez com que os roadies fossem até o vocalista e o “enxugassem”. Durante “Rime...” Bruce trocou de roupa novamente, usando uma espécie de capa retalhada simbolizando o marinheiro protagonista da canção. O colete egípcio e a máscara usadas pelo vocalista durante a turnê de “Powerslave” voltariam à cena na execução da música homônima.
“Heaven Can Wait” traria uma invasão ao palco. Além dos roadies, um bando de sortudos premiados em diversas promoções chegavam para ter o privilégio de cantar o seu refrão ao lado da banda; a ela seguiu-se a clássica “Run To The Hills” e “Fear of The Dark”. Esta última, tecnicamente, não deveria estar no set de uma turnê que aborda os álbuns gravados entre 1982 e 1987, sendo que é de um álbum de 1992. No entanto, “Fear of The Dark” é uma das favoritas dos fãs e não havia porque deixá-la de fora. O mesmo poderia ser dito de “Iron Maiden”, música do primeiro álbum, que também nunca pode faltar. Durante sua execução, como é tradição, um Eddie futurista – baseado na capa de “Somewhere in time” – adentrou ao palco, andando pra lá e pra cá e entrando em conflito com Janick Gers. Com isso, encerra-se a primeira parte do show e a banda deixa o palco.
Pouco depois, o sexteto volta. Bruce pergunta se todos querem ir embora e ouve quase 40 mil pessoas gritando em resposta. Aí ele tenta uma coisa que não dá muito certo. A música a ser executada era “Moonchild”. Ele canta a primeiro linha do primeiro verso da música e espera que o público o complete. Não sei se a galera não entendeu a iniciativa do vocalista, porque a maioria ficou calada. Bruce não se deixou abalar e fez uma segunda tentativa; na terceira, a coisa finalmente deu certo. A pancada “The Clayrvoiant” viria a seguir e, pra fechar com chave de ouro, “Halloweed Be Thy Name” colocaria um ponto final às duas horas do show.
Ao fim de uma apresentação dessas dá até pra entender melhor o porquê da popularidade cada vez maior do Iron Maiden. Apesar de seus mais de 50 anos, os integrantes da banda exibem uma energia e um carisma quase únicos. É impressionante ver Steve Harris em cima do palco “metralhando” o público com seu baixo e cantando todas as músicas junto com a galera, o entrosamento de Adrian Smith e Dave Murray e as molecagens sadias de Janick Gers, que chegou a tocar sua guitarra com o pé. Mesmo Nick McBrain, impossível de se ver atrás do enorme kit de bateria que usa, mostrou-se bastante simpático, especialmente no momento em que Bruce, ao apresentar a banda, esqueceu-se dele. O público começou a gritar seu nome, lembrando ao vocalista seu esquecimento e um visivelmente emocionado Nicko levantou-se e aplaudiu o público. O destaque maior, no entanto, é mesmo Bruce Dickinson. Não há vocalista no mundo do rock mais carismático do que ele. Ao longo do show o inglês corre, pula, brinca com os demais membros da banda e roadies, chama o público para si, enfim, faz de tudo para tornar um show do Maiden uma experiência gratificante para cada um daqueles presentes, seja o bando amontoado na grade, seja a pessoa sentada na última cadeira da arquibancada mais distante. Por tudo isso, não é estranho ver que o Maiden, a exemplo de bandas mais populares, como os Rolling Stones, consegue atrair tantas gerações diferentes de fãs. No Parque Antártica haviam familias inteiras de fãs, gente que ia dos 16 aos 40 e poucos anos de idade. Um fenômeno realmente em termos de bandas de heavy metal.
E ano que vem tem mais. Pelo menos é o que Bruce prometeu diversas vezes durante o show. Assim esperamos.

0 comentários:

 
BlogBlogs.Com.Br