domingo, 9 de março de 2008

Resenha de Desaparecidos

Por: Cristiane Fernandes

Apresentando uma denúncia sobre o tráfico sexual de crianças e jovens que acontece na fronteira entre México e Estados Unidos, “Desaparecidos” é um filme interessante e com um elenco competente, mas que não se decide entre ser documental ou um drama, e em diversos momentos tende ao sensacionalismo.


Se você gostaria de conhecer o México, mas ainda não foi, vá antes de ver “Desaparecidos”, porque depois você não terá mais coragem. O filme não faz nada para favorecer o país, deixando a impressão que eles vivem em uma anarquia e que nenhum 'hermano' presta. Os papéis de 'herói', 'vilão' e 'donzela indefesa' são bem marcados na história. Se você não se enquadra em uma dessas três categorias, você não é importante.

O filme mostra um jovem mexicano chamado Jorge que leva a vida enganando e roubando turistas gringos na Cidade do México. Porém, quando sua irmã de apenas 13 anos, Adriana, desaparece, ele abandona tudo e todos para tentar encontrá-la. Por um muito pouco provável golpe de sorte do destino, ele a vê e identifica seus seqüestradores: um grupo da máfia russa que vende crianças como escravas sexuais.

Determinado a não pedir ajuda à polícia (já que o filme mostra que todos os policiais mexicanos são corruptos ou pior), Jorge segue os seqüestradores em busca de um momento ideal para recuperar sua irmã. Enquanto isso, Adriana faz amizade com Veronica, uma jovem polonesa que veio para o México em busca de uma vida melhor para ela e seu filho, mas foi enganada e acabou caindo nas mãos dos russos.

Em um determinado momento, o caminho de Jorge cruza com o de Ray, um policial texano que foi ao México em busca de algo que só é revelado no final. Após alguns atritos, os dois se unem e vão juntos até New Jersey, onde Adriana será leiloada.

Após algumas complicações e atitudes inexplicáveis por parte de um dos vilões da história (só para que pudesse haver um desfecho favorável), o filme apela com uma tentativa de final feliz para amenizar os horrores exibidos anteriormente.

“Desaparecidos” foi baseado em uma reportagem escrita por Peter Landesman para a New York Time Magazine chamada “The Girls Next Door” (As Garotas da Casa ao Lado), que falava sobre a escravidão sexual. O roteiro foi escrito pelo porto-riquenho José Rivera, que ficou conhecido por seu trabalho no aclamado “Diários de Motocicleta”, e o jovem alemão Marco Kreuzpaintner foi o escolhido pelos produtores Roland Emmerich e Rosylin Heller para dirigir o longa.

No papel (teoricamente) principal vivendo o policial texano está Kevin Kline (“Um Peixe Chamado Wanda”). Apesar de todo o seu talento, Kline simplesmente parece destoar de sua personagem, tornando-a superficial e sem credibilidade. Jorge, o real protagonista, é interpretado pelo novato Cesar Ramos, um mexicano que anteriormente só havia atuado em comerciais e programas da TV mexicana e impressiona pela boa atuação. Alicja Bachleda (“Summer Storm”) interpreta a polonesa Veronica. Sua personagem se sobressai tanto que muitas vezes deixa dúvidas de quem é a mais importante, ela ou Adriana, vivida pela também novata Paulina Gaitan, que merece destaque por sua sensível e convincente atuação.

A fotografia e a trilha sonora são marcantes e bem produzidas. A movimentação das câmeras também foi um fator que chamou atenção, ajudando no envolvimento com as personagens, expressando o que elas estão sentindo, seja medo, desespero ou raiva.

O filme apresenta algumas cenas muito fortes, entre elas um garoto recebendo forçadamente uma injeção de drogas no pescoço, crianças sendo levadas para o meio do mato para que pedófilos façam só Deus sabe o que com elas (sempre respeitando as regras dadas pelos donos das crianças, é claro, como poder tirar a virgindade das meninas ou não) e uma jovem sendo estuprada por um dos seqüestradores enquanto o outro grava tudo. Cenas como essas fazem o longa parecer mais um documentário. Porém, o sentimentalismo e os acontecimentos pouco prováveis o transformam num 'docudrama', fazendo com que ele perca o impacto e se torne um filme que, em alguns momentos, chega a beirar o mau gosto. As personagens bidimensionais também colaboram para que ele perca a força.

“Desaparecidos” não é um filme ruim, mas teria muito mais potencial e chances de alcançar seu objetivo se fosse realizado como um documentário.


***
Tem jeitão de documentário mesmo.

1 comentários:

Anônimo disse...

Pra começar, esse filme não é pra mostrar as belezas do méxico, e sim a triste realidade dessas garotas, vítimas de exploração sexual. Depois trata-se de um filme chocante, que contém cenas fortes, os atores trabalharam maravilhosamente bem. um ótimo filme. fica apenas uma dúvida, se fosse um documentario, você (Cristiane) se sentira melhor ao ver essas cenas? Ou simplismente mostrar a realidade é algo que não serve no cinema?
Dani M.

 
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