sexta-feira, 29 de maio de 2009

Eu sobrevivi à grande epidemia

Felipe Neto

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Quase não se falou em outra coisa durante pelo menos um mês, o incrível hype de sucesso sensacionalista da gripe suína. Mais famosa que os Beatles, mais explosiva que os Rolling Stones, mais pesada que o Ronaldo, mais aterrorizante que o Nazismo e, UAU, mais charlatã que o time do Fluminense. Gripe Suína, o povo realmente acreditou em seu potencial.

Baseando-se no anseio pela desgraça para ter o que falar nos almoços de domingo, o brasileiro parou, aterrorizado, em meio a incrível ameaça da gripe. Praticamente contamos, um por um, cada novo caso constatado da doença e, imediamente, o número de mortos multiplicou-se por cinquenta em nossas mentes controladas por um medo delicioso responsável por quebrar a monotonia da leitura entediante das mesmas ladainhas estúpidas. Não demorou muito para ouvirmos o primeiro paspalho à mesa: “cara, a gripe suína já matou milhares lá no México e nos Estados Unidos”.

É o milagre da multiplicação, onde 95, noventa e cinco, somam-se aos 25 mil mortos anualmente por acidentes de trânsito. Só no Brasil.

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Pânico, receio, pessoas utilizando máscaras em aeroportos nacionais quando a gripe sequer tinha atingido o país, pessoas desmarcando suas viagens para a Europa (?) e Estados Unidos. O valor da passagem para o México caiu 95% e, no final das contas, a única coisa que consigo pensar é: eu sobrevivi à Dengue!

Não venham-me com paspalhices de porcos, eu sobrevivi a TRÊS epidemias de verdade, onde a última, inclusive, teve meu bairro como principal foco (sabe a piadinha? “você mora bem. Bem no foco da dengue”, pois é). O Méier foi assolado por inúmeros casos da doença, esta sim, destruidora por completo. Vi meu irmão jorrando sangue pelo nariz, vi minha mãe hospitalizada a sério, vi meu vizinho praticamente dar adeus, sendo salvo nas últimas. Eu vi, de camarote, o que foi uma doença que, em poucos meses, atingiu 250 mil pessoas e matou mais de 200 APENAS no Rio de Janeiro. Um estado, um pentelho do mundo, com um índice muito mais assustador que essa falsa ameaça aterrorizante global que, no mundo inteiro, infectou 13 mil pessoas.

As notícias desapareceram. Aparentemente, o sensacionalismo perdeu o sentido, ao ponto que as pessoas começaram a fazer as contas. Antes, acompanhava-se o jornal para saber, com medo de verdade, quantas pessoas haviam morrido por dengue naquele dia. Agora, acompanha-se tediosamente para descobrir: “sobe para dez o número de casos da gripe no Brasil - Infectado é do Rio e passa bem”.

Acordem-me quando houver uma ameaça de verdade. Ate lá, a precaução é necessária, mas o medo é descartável. O que me lembra, aliás: recicle seu lixo, ele pode matar mais que a gripe suína. Mas ei! Com essas coisas ninguém se preocupa, afinal… Não dá Ibope.

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